Ela gostaria de receber boas notícias. Boas notícias seriam mudanças, recomeçar. Gostava de mudanças - sempre se acha algo perdido que procurava por muito tempo e então a nostalgia pela importância daquilo que se acha por acaso vem a tona. Gostava disso, mas tinha medo de admitir. Tinha medo de admitir qualquer sentimento, por mais que normal fosse sentir aquilo. O dia estava quase quente e isso a incomodava, gostava do frio e nem isso tinha coragem de admitir. Tropeçava a cada três passos a caminho do parque do centro da cidade - ali era seu lugar favorito. Ele já a esperava, sentado num banco perto das frésias segurando um pequeno papel.
_Hey, desculpe o atraso, eu..
_Sente-se - ele a interrompeu. _Preciso lhe dizer algo.
_Eu já esperava por isso, mas tenho algo a dizer também. E primeiro as damas, se me permite. -ela fez uma breve pausa, respirando fundo. - Você está diferente. Não sei o que, mas sinto que está diferente. Antes, você tinha tempo para mim. Agora, nos raros momentos que estou com você, parece que não me ama do mesmo modo. Não sou mais a pessoa mais importante para você e não acredito mais quando diz que me ama. Você não me ama, se amou, não ama mais. Você ama primeiro seus amigos, bar e futebol. E eu não quero ficar numa posição inferior à um copo de cerveja no seu coração. - ela se sentia uma idiota dizendo isso.Ele desdobrou o papel e disse: _Escrevi essa carta quando te vi. E nunca entreguei. "Se não a tiver ao meu lado, não terei motivos para seguir em frente. Te amar e te ter significa viver no meu dicionário" Não sei se sinto muito, mas acho que algumas mudanças ortográficas aconteceram no meu dicionário.
Sei que agora falta tempo, mas também falta amor. Desculpe por tudo, mas esse é o nosso fim. - e naquele momento, um nó formava-lhe a garganta, até o "fim" ainda era de ambos, ainda existia um "nós" e isso doía nele e nela.Ela levantou-se sem olhar para trás. Sabia que isso um dia ia acontecer. Chorava, mas a última coisa que gostaria que acontecesse era que ele visse que lágrimas banhavam seu rosto. Como eu lhe disse, era difícil para ela admitir qualquer sentimento. Odiava sentir aquilo, aquele calor súbito na ponta dos dedos e nas bochechas claras, odiava perceber que tudo que ali acontecera ficava repetindo mentalmente dentro de si. Odiava saber que ele não tinha mais tempo nenhum para ela. Odiava ver que tinha chegado ao fim, ao "nosso fim".
Gostaria que estivesse chovendo, não só porque odiava dias quentes, mas porque gostaria que algo disfarçasse aquelas lágrimas estúpidas que forçavam a escapar do seus olhos. Por que ninguém tinha tempo para ela? Ela odiava tudo, odiava tropeçar a cada dois passos, odiava-se.
_Ei, senhorita, alguma coisa errada? - ela limpou as lágrimas e olhou para cima. Nunca havia visto aquele homem antes. Sua mãe lhe dissera que era errado conversar com pessoas desconhecidas.
_É uma longa história - disse.
_Eu tenho tempo. Quer tomar um café?
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