Amor egoísta

Caio Fernando de Abreu é uma das minhas maiores inspirações. O Eu continuo dessa semana é com uma frase dele que está grafada assim. 

Se isso basta? Basta apenas te ter ao meu lado? Depois de tudo (ou nada)? A ignorância que você me tratou, você desfez do que eu sentia e ainda sinto. Despedaçou meu coração em três mil pedaços de nada. E a única coisa que consegui fazer foi ficar em silêncio. O silêncio, em parte, era reconfortante. Não pelo fato de que eu conseguia escutar meus próprios pensamentos, mas porque eu conseguia encontrar mais um pedaço dos três mil do meu coração perdido por aí.

O silêncio era um modo de me recompor. E ao mesmo tempo era um modo de me auto-destruir. Me perco mais, me afundo mais nas minhas lembranças, naquelas em que tudo era um conto de fadas. E nunca passou disso. De um conto. Em que você apertou minhas bochechas e pediu ajuda no joguinho. E eu considerei isso um avanço. Seu simples toque por vontade própria. Meu coração acelerou, você não ouviu? Já sei tua resposta. Não. Ai, isso dói. Amar sozinha, sentir tudo sozinha. Me afundar no meu próprio silêncio. Sozinha. Isso é meio egoísta, não é? Acho que sim. Eu me sufoquei sendo egoísta. Tudo meu. Só meu. Não me impressiona que por anos eu guardei isso só pra mim. Precisei botar pra fora. Mas coisas desse tipo devem ser engolidas, até a digestão terminar. Até nascer a fome de novo, até o tempo passar. O tempo passou, finalmente. Mas as coisas não mudaram. Você continuou o mesmo. Ou até pior. Mais egoísta. Mais egoísta do que eu. No teu próprio silêncio, você foi (e é) feliz. No teu próprio silêncio, encontra a companhia. Eu não.

Então eu apenas espero que isso mude. Que teu silêncio seja por minha causa. Que você seja egoísta ao meu lado. Eu vou me esforçar pra que isso mude. Mas dessa vez, vou engolir todas as minhas palavras e esperar a digestão. Aí minha fome e sede por te amar mais, vai me fazer pensar duas vezes antes de cometer mais um erro. Eu vou mudar as regras. Estarei no comando ou quase isso. Quero te fazer sentir o que eu senti. Digo, as melhores sensações que já senti. Vou apertar suas bochechas e te pedir ajuda num joguinho. E aí, teu coração baterá com força, sem que ninguém escute. E vou fingir que não escutei. Mas eu estaria apenas fingindo, você sabe.