Amando de Mentirinha

Sinceridade demais é capaz de machucar, mas viver de mentiras não é viver. Eu menti, você mentiu. Nos consumimos nas nossas mentiras até que elas se parecessem realmente verdade. Eu menti e você sabia que eu estava mentindo. Você mentiu e eu também sabia. Mas eu sabia -e você também- que lidar com a verdade dali para frente poderia acabar tudo. Tentamos reescrever nosso texto lindo, mas é muito mais difícil tentar consertar do que começar do zero, de novo. Parecia que tínhamos vivido tanto, não é mesmo? Era difícil largar para trás nossa história linda -mas cheia mentiras- e começar de novo uma história sincera e não tão perfeita assim. Você sempre foi perfeccionista e eu mais ainda, mas eu não consigo viver de mentiras.

Eu sei que fui a primeira a mentir. A dizer que nunca passou de certo ponto, mas sempre esteve na cara. Mas sei lá, se eu não tivesse dito isso, não chegaríamos ao fim de uma história e muito menos tentado escrever outra. Escrevemos juntos, se lembra? Você segurou na minha mão e me guiou. Eu olhei para o seu rosto ali do meu lado e começamos a rir. Foi fofo. Mas começou a ser um ciclo vicioso e para que fizéssemos um parágrafo, precisávamos de mais duas mentiras. Não, eu nunca menti para deixar de ser quem sou, eu menti porque te amo.

É incoerente dizer que se mente por amor, porque amar significa transparecer sentimentos sinceros. Mas desde o início, te deixei ver nos olhos e no meu sorriso que te amava. Só que encontrar com a realidade de repente machuca, mesmo sabendo desde o início que tudo foi um amor iludido. Talvez porque eu não esperava encontrar com a realidade, afinal as mentiras ainda existiam. Mas a máscara caiu e encontramos ali duas pessoas que se amavam mas queriam viver um conto de fadas. Eu me perdi, eu simplesmente não conseguia me reconhecer, te reconhecer. Nunca deixei de ser quem sou, mas deixei de amar você pelo que você realmente era e comecei a amar aquele personagem que você criou.

Então nos afastamos. Ficou tudo para trás e eu precisava de um tempo para absorver tudo, que aliás não era nada. Posso afirmar que te amei, que me deixei levar por um sentimento, mas não posso negar que uma parte  de mim que te amava, te amou pelas metades. Foi meio difícil te abandonar e abandonar também meu personagem favorito. Então chegou o ponto final de uma história que tinha tudo para ser perfeita. E começamos de novo mas sem Era uma vez.

Nossa nova história começou quando nós choramos juntos. Minhas lágrimas deixavam meu rosto cheio de manchas pretas de lápis borrado. Você sussurrava pedidos de desculpa na minha orelha e chorava junto. Choramos até não sabermos mais porque estávamos chorando. Aí você começou a rir, mas meus olhos ainda estavam cheios de lágrimas. E aquilo me fez chorar mais, e então me chamou de manteiga derretida. Eu fiquei pensando qual foi o nosso erro, se foi iludir ou começar uma história que nunca terminaria. Cometemos um erro, eu me apaixonei pelo garoto errado, mas que estava ali rindo da minha cara. Chorávamos porque sabíamos que aquela nova história nunca daria certo, mas eu ainda precisava de você e você de mim. Mas você ainda continuava ali, pedindo desculpas, chorando e rindo. Então me deixei consolar no seu sorriso. E eu amava aquilo de verdade. Naquele momento eu poderia ter dito que tudo estava sendo sincero e perfeito, mas sei lá. E se eu estivesse mentindo de novo?