Se meus olhos fechassem, se a dor passasse e se a nostalgia sumisse, tudo estaria bem. Se aquela angústia dentro de mim fosse apenas um incômodo breve seria mais fácil. Mas me prendia no que passou e no que eu poderia ter dito. Acordar cedo, fazer um rabo de cavalo sem olhar no espelho, vestir meus jeans sobre meu pijama e pegar a mochila sem arrumar os materiais parecia combinar totalmente com aquela quarta feira. Ou quinta. Que dia era? Merda, sábado. Apenas debrucei sobre a mesa da cozinha e dormi mais. Queria nunca mais acordar, ficar ali para sempre. Só que tinha prometido pra mim mesma que iria esquecer o que passou e continuar. Como se fosse fácil.
Sentia algo estranho entre meu estômago e meu coração. Inquieto e insistente. Talvez era o excesso de remédios que tomei duma vez. Ficaria feliz se morresse de overdose naquele momento. Minhas pernas tremiam, mas queria erguer meu corpo e sair por aí sem destino – minha vida sempre foi assim, eu sou um pedaço de nada sem destino.
Ela nunca foi minha melhor amiga. Ela nunca foi nada. Nem ela nem ele. As lembranças não temiam em invadir meus pensamentos e lá estava eu quebrando minha recente promessa: eu sabia que nunca a cumpriria. Tantas coisas mal esclarecidas foram deixadas para trás sem qualquer conclusão. Sem adeus ou qualquer palavrão que fosse. De repente estava ali sozinha esperando pelo nada sem destino. Eu precisava parar de chorar.
Abri a porta e me guiei por um perfume que eu amava. Estava por todas as partes. Olá Nostalgia. Só então percebi que o cheiro dele – e as lembranças– ainda estavam impregnadas na minha roupa, na minha pele e no meu coração. Eu precisava esquecê-lo mas ele já era parte de mim literalmente. Talvez o cheiro de flores e terra molhada ajudasse.
Deitei-me ali e esperei ser bombardeada por minhas memórias. Minha promessa não importava mais. Nada importava e eu não sabia o que fazer – de novo. Se eu precisava de alguma coisa naquele momento era mudar. Ou talvez resolver algumas coisas. Os dois. Mudar a mim mesma – e isso não significava apenas cortar minha franja – e botar para fora todas aquelas palavras que me sufocavam. Dizer o que queria e complicar mais ainda a situação já que não tinha mais volta. E eu o faria naquele momento mesmo em que o cheiro dele ainda entrava para os meus pulmões e me fazia lembrar de seu sorriso e de seu corpo nu diante de mim pela primeira vez.
Comecei a caminhar meio sem rumo, indecisa. Não sabia se conseguiria. Faltaria coragem e ficaria parada na porta de sua casa e depois correria de volta para casa arrependida. Bipolar. Um carro naquela hora seria ótimo. Mas eu tinha pernas – era isso o que meu pai dizia.
_ Olá senhorita, quer uma carona? – eu deveria olhar para a direção em que vinha aquela voz? Sim, eu deveria.
O desconhecido sorriu como se me conhecesse há anos. Eu sorri de volta ofuscada – ele era absurdamente lindo. Eu poderia aceitar e entrar. Mas algo me prendia ali, algo que eu precisava terminar. Só não sabia o que era. Mas não importava mais, não é mesmo? Quando vi, o vento já tocava meu rosto e já estava correndo sem destino para lugar nenhum. Só que desta vez muito bem acompanhada. Pé no acelerador, por favor. Minha história só começa aqui.
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários são moderados, mas sua opinião é sempre bem-vinda! Comentários desrespeitosos ou caluniosos serão banidos.
Fique livre para enviar uma sugestão, dúvida ou crítica: entre em contato comigo.
Certifique-se, antes, se a sua dúvida já está respondida no F.A.Q. Obrigada!