Crianças sempre têm dúvidas e questionamentos, e assim eu era. Eu via um por que e pra que em tudo. Nada parecia encaixar ou ter sentido. Às vezes me sinto assim, como se tudo que existe em minha volta e dentro de mim para nada servisse.
Quando pequena, antes de dormir e rezar, deitava no colo do meu pai e o questionava. Papai, por que temos uma família? E ele sorria e dizia sem pensar. Aquela resposta já estava na ponta da língua. Porque é a nossa família que está ao nosso lado quando precisamos de alguém. Você é muito novinha, mas quando você crescer vai perceber que às vezes nossos amiguinhos e coleguinhas não estarão ao nosso lado sempre. Mas então papai, por que nós crescemos? Por que não somos como Peter Pan? Porque Papai do Céu quis assim. Quando a gente cresce, podemos ensinar para as crianças como é viver. Um dia você também fará isso.
Ele não precisava ser convincente, até porque tinha apenas meia dúzia de anos. Eu acreditaria no que ele dissesse, mas nunca pararia de questionar. Então um dia eu o perguntei. E as borboletas papai? Por que elas nascem lagartas? Ele passou as mãos na minha cabeça e disse que aquela era a maior lição de vida para todos nós. As borboletas são lagartas no começo, feias, escuras, quietas. Mas logo transformam-se em algo novo e belo. Mas papai, por quê elas se transformam? Então ele passou a mão na minha pele e na dele e disse que com o tempo tudo se transforma. Essa é a nossa vida. Tudo muda, se renova e evolue. Todos nós nos transformamos com o tempo.
Então parei e pensei. Pensei muito. Pensar era uma coisa difícil para alguém de seis anos. Veio uma luz na minha cabeça e um sorriso nos meus lados. Voltei então a questionar, com a voz como se tivesse acabado de fazer a maior descoberta do mundo. Papai, então assim como as borboletas, um dia eu também terei asas? Ele parou, me olhou e não encontrei nos seus olhos minha resposta. Algo estava errado. Eu senti que aquilo seria uma descoberta só minha, então eu o abracei e pulei da cama. Abri meus bracinhos e comecei a correr como se realmente estivesse voando. Por acreditar, eu voava.
Agora eu sei que papai não quis acabar com o meu sonho. Eu nunca teria um par de asas, e isso acabei descobrindo por conta própria. Mas ele nunca soube que eu não precisava disso para voar. Peter Pan não cresceu, mas também não precisou de asas. Passei muito tempo indo para o infinito sem o auxílio delas. Porém, assim como ele disse, todas as coisas evoluem. E a cada noite eu peço, em silêncio, para que ocorra logo a minha transformação. No fim, somos todos pequenas lagartas.
1 comentários:
que texto maravilhoso! ='( juro que meus olhos se encheram de lágrimas!
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