Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

sexta-feira, janeiro 07, 2011


Relicário

Todas as garotas poderiam achá-lo bonito, mas de perto ele não era. Suas piadas eram sem graça e seu hálito tinha constante cheiro de uísque barato. Mas ele definitivamente sabia como agradar uma garota, e seu sorriso era daqueles caras conquistadores que sabem por onde ir, pra onde ir. Mas eu não conseguia vê-lo como algo além de melhor amigo. Ele era chato às vezes, mas seu cabelo e sua pele macia – ok, seu sorriso também – fazia com que deixasse ele eternamente na minha vida. Nós nunca demos muito certo pra algo mais. Ele não gosta dos livros que eu gosto e nem dos filmes que mais gosto. Ele vive me perguntando como ele ainda mora debaixo do mesmo teto que eu, mas o aluguel caro fazia ele continuar dormir na mesma cama comigo.
Era inevitável que as garotas olhassem pra ele quando ele passava. Ele era bonito, mas já estava tanto tempo convivendo com ele que essa beleza valia menos que o caráter. Conseguia sentir o ciúmes daquelas "garotinhas riquinhas de baladinhas" toda vez que ele segurava minha mão ou colocava uma mecha atrás da orelha. Ciúmes tolo, afinal nunca existiu um nós na nossa história. Muito daquilo que ele é deve-se a mim. O perfume que ele usa era maravilhoso – os outros eram horríveis, fiz questão de escolher um delicioso – e ele sabia escolher roupas simples, mas que o fazia ficar com aquela jeito de "carinha que adora garotinhas riquinhas de baladinhas". Eu até tentava sentir alguma atração por ele, mas meu coração batia em uma outra frequência. 
Então a gente saía de mãos dadas, ora abraçados, pouco se importando se passasse alguma ex-namorada dele ao nosso lado. Se passasse a gente ainda mostraria a língua, e sairia rindo. O que os outros pensavam, o que os outros sentiam ou seja lá o que for, nunca impediu que eu e ele fizéssemos o que queremos fazer. Era natural, sem preocupar com julgamentos e olhares tortos.
Mas dessa vez quem olhava torto era eu. Eu tinha um pouco de medo de que ele encontrasse meus olhos, porque ele me conhecia tão bem. Escapariam as palavras, sem ao menos dizê-las. Ele sabia que eu o olhava torto enquanto ele contava daquela garotinha riquinha de baladinha, mais uma na sua vida. Eu não me importava com nenhuma delas. Esse desinteresse sempre fazia com que ele se calasse, esperando que surgisse algum assunto. Nunca surgia, aquela convivência diária acabava com segredos, novidades ou conquistas. Assim chegávamos até o prédio e por lá esperávamos o tempo passar. Jogava meus tênis em algum canto e sentava no chão apoiada no sofá. Então ele surgia com um copo de uísque e fitávamos a TV. Ele deitava no meu colo enquanto eu esperava o tempo passar. 
Meus dedos passeavam pelo seu cabelo que eu tanto amava. A televisão era apenas um monte de luzes mexendo, o som era apenas um zunido. Eu tirava sua blusa e ficávamos revezando o copo de uísque. Nunca tinha nada a falar. Não por medo, mas porque eu saberia o que ele responderia. E ele também saberia o que eu diria, então ficávamos ali naquele silêncio confortável. Eu brincava com seu cabelo, e sentia nele algo diferente. Não por ser melhor que o dos outros que já tive a oportunidade. Mas o dele era especial.
Naquele silêncio confortável enquanto deslizava os dedos pelo seu cabelo, eu esquecia todos seus defeitos e neste momento eu tinha certeza que eu o amava de um modo único. De um jeito que jamais havia experimentado. Um amor que saia da zona de conforto, dos nossos silêncios, copos de uísque e brincadeiras na rua. Então ele protestava sem nada falar quando percebia que eu estava encarando seu rosto ao invés da TV. Então deitava no seu peito nu enquanto sentia sua respiração lenta. Até cair no sono e não lembrar de mais nada. Apenas de sentir as mãos dele me carregando no colo até o quarto, sendo coberta pelo lençol com delicadeza para então sentir seu corpo quente colar ao meu. Então eu o abracei inconsciente, mas num gesto tão consciente de proteção e carinho.
Só então, depois de algumas horas, lá pra algumas horas da madrugada, escutava ele sussurrar enquanto colava mais seu corpo ao meu.
"Obrigado, eu te amo." Então beijava seu pescoço, fazendo seus pelos eriçarem. Então caía no sono, pra horas depois perceber que ele ainda falava. "E por te amar, eu poderia ser seu. Era só você querer. Só se você quisesse. Mas este silêncio sempre incomoda. Queria que entendesse. Eu poderia ser seu, se quisesse. Ainda bem. Ainda bem que não quer."
Virei meu rosto para o seu e sorri, ainda de olhos fechados. Naquele silêncio ele saberia que eu sentia o mesmo. E ele me amava por eu ser diferente de todas as garotinhas riquinhas de baladinha. Por eu ser a única que o entendia sem nada dizer. Eu esquecia todos seus defeitos e neste momento eu tinha certeza que eu o amava de um modo único. De um jeito que jamais havia experimentado. Que nenhuma das garotinhas seriam capazes de entender.
3 comentários

3 comentários:

Ana Kélvia disse...

Muito lindo! *-*

Amanda Carolina disse...

adoreeei mariana. Obg por me seguir, já estou te seguindo tb. Beeijos, e continue assim . ^^

Gabriela disse...

Nossa. Muito boom!

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