Enchanted: Revelações

Parte I

Ele levantou o rosto lentamente, tentando colocar algum pingo de coragem que o restava na sua voz. Encontrei seus olhos amendoados, quase castanhos-claro. Tive a sensação de que tudo parava naquele instante. Todo e qualquer movimento ao nosso redor inexistia. Não escutei uma música sequer ao fundo. Um barulho, um ruído, uma pessoa, na-da. Era apenas eu e ele. Seus olhos, sua voz. Esqueci que você estava me vigiando e procurando, que faltava alguém, que eu poderia magoar com o que eu estava prestes a fazer. Mas em meio de um turbilhão de pensamentos, segundos que se passam, ele fala. Eu apenas sorri, como se dissesse: vá em frente, estou de coração aberto.

"Ah, Mariana, que medo tenho. Vai que eu estrago tudo, vai que eu te perco e nunca mais te tenho. E do jeito que falo, até parece que você é minha. Mesmo sem você saber, você é minha desde o primeiro instante que te vi. Eu me sinto um otário dizendo tanta merda, mas de tantas vezes que tu me escutou, me escuta agora, minha linda. Lembro quando a gente se conheceu. Você estava com meu melhor amigo, no ano passado. Ele tinha te pedido em namoro, te dado um colar. Ele só falava de você, me contava como você era, do que você gostava, do jeito que você sorria. Seus gostos, suas manias. Eu já te conhecia antes mesmo de nos vermos. Mas você estava com ele, e o que eu sentia não era tão forte assim como é agora."

Ele sorria, os olhos distantes, saboreando lembranças que não tinham me marcado. Era um tanto estranho viver aqueles momentos pela memória dele, de outra visão, e principalmente, de outro coração.

E como melhor amigo dele, eu só podia rir da cara dele e falar: que gay você cara, fica aí babando feito babaca em uma, e não pensa mais em pegar todas as gostosas da balada. Mas na verdade eu tinha quase inveja. Você pode não ser a garota mais bonita ou a mais divertida, mas você é de alguma forma, ideal. Pra mim, pra ele. E isso me dividiu. Entre meu melhor amigo desde pequeno, um irmão. E a garota que na primeira vez que vi, senti ser minha. Mas eu fiz o certo, meu amor. Eu deixei meu melhor-amigo-irmão ser feliz com você, enquanto eu tentava fazer tudo que eu falava pra ele. Saí para todas as festas com meus amigos, quinta a domingo. Queria pegar todas as gostosas, e peguei. Mas nenhuma delas eram você. Nenhuma delas tinha o sorriso com covinhas que me encanta.

Quando sorri ele tocou minhas bochechas e abaixou a cabeça, como se sentisse uma dor, uma mágoa e um arrependimento indescritível. E eu senti tudo que ele tentava não transparecer, como se fôssemos um só. 

"Foi quando nos aproximamos. Lembra, Mariana, que vocês não estavam muito bem? Você dizia que já não gostava dele como antes. Eu não sabia se me sentia feliz ou culpado pelo que você sentia. Porque eu sabia que uma parte do seu 'não gostar' era minha culpa. Eu achava que estava te ganhando, aos poucos. Você me abraçava, dizendo que tinha medo de perdê-lo. Eu dizia que ia passar e te abraçava mais forte. Admito que eu aproveitava para sentir seu perfume enquanto você chorava baixinho no meu ombro. Você descobriu minha amizade, e eu a sua confiança. Descobri que a quase namorada do meu melhor amigo era uma ótima conselheira. E foi só questão de tempo para que isso acontecesse. Foi quando descobri tudo que eu sinto por você. E agora, mais do que tudo, preciso que você saiba. Você seria capaz de me entender, como todas as outras vezes que você o fez?"
Responder essa pergunta não seria nada fácil. Eu me perguntava se eu seria capaz de aceitá-lo, mesmo gostando dele. O que eu sinto por ele é sincero? Apenas me contentei ao silêncio, e esperei que ele continuasse. Mas sabe aquela sensação de que eu estava fazendo algo de errado, mesmo ao lado da pessoa certa? Eu me senti assim. Então preferi não responder, para não machucar alguém que sempre quis tanto o meu bem.

Continua.

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