Acho que toda, absolutamente toda garota tem um objeto de desejo. Daqueles de se sonhar loucamente para consegui-lo. Se topar com alguma loja na rua que o tenha, o escândalo –pelo menos mental– é certo. Eu, por exemplo, tenho um vício compulsivo com anéis e sapatos, principalmente sapatos. Sou daquelas que sonha com um modelo novo por muito tempo, imaginando cada look e ocasião viáveis para aquele par. Se for de salto alto então... minha mente já imagina toda a elegância, luxo e conforto lá de cima. Imaginando o sapato cobiçado como o companheiro de até o final da noite, quando a festa acabar.
O perceptível brilho dos olhos, a felicidade quase extrema, o seu sorriso que não sai dos lábios são as sensações de quando a oportunidade permite de tê-lo em seus pés. Tão irônico que o último par seja justamente na sua enumeração e na cor que você queria! Todos os sacrifícios são feitos para levá-lo, finalmente, para casa: no bolso, na mesada, nos presentes e no resto do ano. Mas não importa, aquele era O sapato e tê-lo era quase questão de necessidade.
A incessante e impiedosa vontade do sapato desejo me leva a pensar em situações parecidas com essa. A história que começa com mas ou menos um relance descuidado, pode ter vários finais felizes ou não. De levar para casa ou cobiçá-lo para sempre, mas nunca tê-lo. Talvez você consiga associar essa sutil comparação entre sapatos e sentimentos, ou talvez nada disso te lembre nada além de... sapatos. Mas se na sua mente não há nada que te lembre, na minha há. Como aquele que um dia te encantou, e desde então ele não sai dos seus pensamentos. E assim, uma descoberta tão óbvia quanto a beleza daquele sapato, também há outras garotas que o desejam, ou até mais sortudas: já o tem. O que era perfeito para você, também é perfeito para elas. Numa fatal disputa acirrada pelo único par, a vitória é quase por sorte, e ganhá-lo requer esforços inimagináveis para enfim, tê-lo.
A espera é ansiosa, quase tintilando, pelo dia de usá-lo pela primeira vez. E não estou falando de experimentá-lo dentro de casa, e andar elegantemente no maravilhoso salto alto. A sua vontade é de sair andando por aí, mostrando vitoriosa, a novidade nos seus pés. Quer ser reconhecida, notada, e do mesmo jeito que um dia você o desejou, fazer as outras desejarem também. Só falta o grito orgulhoso: olhem para mim, agora é meu! Porque de alguma forma, isso faz diferença para você, pelo menos no começo. A sensação do sapato novo é de que com ele você é totalmente diferente, para melhor claro.
Mas como tudo que se ama e se usa muito, perceber os primeiros desgastes. Os pés cansados, as bolhas por aparecer, os primeiros sinais de uso. Um detalhe aqui, outro ali mas que te incomodam. O salto levemente sujo, e por ser tão delicado, o leve também marca. Vem então a pergunta: mas aquele sapato não era perfeito para mim?
Nessas horas que amor antes tão incondicional se mostra enfraquecido e vulnerável, e novos sapatos lindos são vistos por aí. Pelas ruas, festas, bares, fotos. Muitos lugares para se apaixonar perdidamente por um sapato novo. Para desejá-lo e fazer de tudo para tê-lo. Não que aquele, agora antigo, sapato novo tenha perdido seu valor. Só seu brilho que já não é mais o mesmo nem seu desejo por ele. Afinal, o sapato é seu e estará ali sempre que quiser usá-lo. Aí você enjoa, porque você –e tantos outros– o conhece tão bem. Por isso, ele que antes era separado para ocasiões especiais, facilmente está em seus pés. Mas estamos falando de sapatos, e sapatos são apenas sapatos. Talvez você tenha entendido o que eu quis dizer com todas essas filosofias e procure nos olhos tão conhecidos, o seu sapato favorito. Qual detalhe que te conquistou e qual altura do salto você arriscaria o tombo ou o pé torcido. Se já está na hora de um novo, ou deixá-lo para sempre na caixa, pronto para te acompanhar mais uma vez. Se você enjoar desse sapato, dê um tempo dele: guarde-o. Sinta saudade. Por mais que aquele da vitrine seja agora, seu objeto de desejo, ele não é o seu preferido. Bem, entenda como quiser, mas há certos sapatos que levo comigo e tenho certeza que nunca caem de moda. Não por serem tradicionais, mas por serem únicos.
No fim das contas esse é o ciclo: nos nossos armários e nas nossas vidas.
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