Vigio-te distante. Olho sem ambição ou desejo algum. Apenas observo. Em mínimos detalhes, entendo teu interior e rancores guardados há tanto tempo. Te devaneias longe, voa por nuvens intocáveis, que de tão altas, sei que aí não estás. Teu corpo presente, tua mente ausente. Sonhas com o futuro repleto de expectativas, e te devoras no pretérito em que nada dera certo. Realizaram apenas as decepções e partidas já previamente marcadas. Esperavas mesmo a derrota, assim: por completo. Sente-se num fracasso de eco infindável, que te atordoa a mente antes do sono encontrar teus olhos. Encara-se o teto e o espelho por um eterno tempo, entendendo seu estado: será culpa ou mágoa? Mistura-se então, por entre os dois, tuas sensações.
Culpada por tanta mágoa, magoada por tanta culpa.
E então, garota, não te retornas ao teu corpo, porque sei: teu coração te deixou muito longe e perdida. Encontrar-se novamente, em plena razão e sã, é quase impossível. Entregaste tão puramente, que veja só, não sabe como eras antes. Se nasceu inteira ou assim, faltando a maior parte de si: teu interior. Aquilo que te resta, leva-te dor e sofrimento. Lacrimeja teus prantos que mal compreende: por que não são minhas lágrimas de sangue? Tantas incógnitas, que tu, garota tão ferida, já inexiste de si mesma: pensas em abandonar-te do resto que não lhe falta por enquanto. Sobrou apenas, dentro de ti, o coração minimante machucado e dos estardalhaços, inúmeras cicatrizes. Dessas lembranças guardadas, pouco se lembra dos sorrisos. Há tanto tempo desconhece-lhe a felicidade. E a solidão, se não sabes, tornara tua melhor amiga. Na face já te estampa, sem esconder: sofres, sangra, ama, tudo sozinha. Tu garota, de imensa força e coragem, ainda estás aí.
Respira calma e pulsa no peito, o que de fato teu corpo apenas faz, mecânico e obrigado. Do resto, encarrega-se de entorpecer para não sentir mais tanta dor. Quanto te faltas, garota. Dominou-te por dentro, o que antes era do mais claro dos céus sem nuvens. Agora vê-se por meio da interminável tempestade, de céus negros e casas desoladas. Tua alma, garota, tornou-se escuridão, mesmo que o sol brilhe onde estás agora. Vivem lhe dizendo, que se assim continuar, teu corpo será tomado por um amor que não deve durar tanto. Enclausurou-te nessa compaixão, que de tanto pesar, por já não ver saída Em meio de tantos lugares lotados, só se vê pessoas vazias como tu, garota. Preferia antes ser abandonada que esquecida, como foste. Mal lembram do teu rosto ou de tua voz, aqueles que tu amastes incondicionalmente. Aliás, tu continua aí imóvel, e os pensamentos para mais de mil. Largue todo esse teu fascínio pelo passado, levanta-te a glória pelo que há de vir, e como vier. Tu que sempre quis o plural na tua vida, encontra-te no singular, a perfeição que te cabe aí dentro. Preenche esse teu vazio.
Tu, garota, que sempre acreditou em finais felizes, passe a acreditar em ti mesma, e muda o que te incomoda.
Erga-te, procure teu reflexo além daquele do espelho. Entrega teu corpo, deixe contigo a alma. Leve-se pela fragilidade quando puder contar com um amparo. Esqueça-te de melancolias e instantâneas vontades de crise. Ame-te, menina. Aprenda, o que te machuca nem sempre é algo que vê. Por fim, levanta-te e vá. Sem ao menos perceber minha presença, sem cobiça ou desejo.
Tu sabe que consegue. Silencia-te e segue teu caminho. Guarda teus pensamentos para depois, ponha teus pés no chão, passa a ter medo dessa altura das tuas nuvens. Sonha de olhos fechados, viva agora, garota. Amanhã, tu sabe, pode ser tarde demais. Encontra-te, busca os pedaços do teu coração. Se precisar, pega aqui, do meu peito. Estou a te vigiar, menina, mesmo que sem saber, é que te preciso inteira, para completar o que me falta também. E é aqui nesse coração que só sabe faltar na tua ausência, que te quero. Cola teu coração no meu, completa-te e me completa. Teu vazio, tu mal sabe, mas também se faz meu. Só o teu amor, garota. Faz dele nosso, te imploro.
Olha para mim, pequena, tu ainda existe. Mesmo que ache que não. Se tu precisar, podemos ser nós.
Só que agora não. Tu e eu somos dois para depois.
Olha para mim, pequena, tu ainda existe. Mesmo que ache que não. Se tu precisar, podemos ser nós.
Só que agora não. Tu e eu somos dois para depois.
2 comentários:
Quanto rebusque hein garota! Quanto nível! Esse conto é lindrico, amei tudo, a história, como voce a transmitiu. Me senti como vendo uma garota como essas, que aliás, são até vistas por aí!
Beijos, tem novidade no meu blog! Passa lá :)
Obrigada Jéssica! É muito gratificante isso! Ah, e nem precisa pedir, né? Sempre estou por lá!
Beijos querida amiga blogueira!
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