Dia 9 – Conte um segredo
Uma noite que não prefiro me lembrar qual, eu senti desabar. À minha volta tudo inexistia e dentro de mim, faltava. Tanta mágoa, tantos dias um após do outro, vividos sem sentido, não cabia a mim própria a dor. Tudo tornou tão insuportável que chegou num ponto que quis desistir. Não de mim, dos outros. Talvez quisesse eu desistir do coração, mas eu sentia que ainda tinha muito o que fazer e mudar. Eu continuava a sangrar, sem ninguém ver. As lágrimas insistiam, sem ninguém limpá-las. Meu caminho seguia, me levando a lugar algum. Tomei minha frustração, peguei minha mágoa, lembrei da minha dor: e, então, memórias vieram à tona. A sensação que tive era de que ali tudo acabava.
No escuro, seja onde fosse –fora ou dentro de mim–, só eu o presenciava. O que estava à minha volta se tomava por turvo e opaco, me impedindo de ver o que estava adiante dos meus olhos. Sentira eu, naquele momento, apenas meus sentidos. Atiçados, mal conseguia ver como eu própria estava. Parecia que conseguia enxergar ali um elo entre dois planos que a humanidade sempre quis presenciar: a vida e a morte. Ali pendia um convite.
E eu não sabia o que fazer.
Lembro de tudo rodar. De toda memória se dissipar. Era vazio, muito vazio. Era uma imensidão que me senti insignificante perto do próprio nada. Consegui chorar e mal acreditei que ainda tive forças para isso. Eu que tanto me senti frágil, lágrimas pareciam uma fortaleza: pudera eu mostrar minha dor no nada que sentia? Desde que ele se foi, todos os sempres se tornaram eternos demais. Eu não conseguia aceitar sequer ver como seria minha vida dali para frente.
Ninguém me contou que partidas poderiam doer tanto.
E tomei-me por abismos. Tão infindáveis, que seu próprio eco não tinha fim. Por um tris ou até menos, me rendi àquela escuridão. Nos resquícios da minha existência, aquele momento dava ao peito angústia, medo e arrependimento. Minha respiração nem ao menos dava pulso: minha fraqueza não era mais espiritual.
Era muito mais fácil partir do que ficar ali.
Naquela noite, pouco fui mas muito senti. Sendo apenas o corpo, mas o coração capaz de mostrar as evidencias de tanta dor. Não mais encontrava face: razão, emoção e eu mesma. O reflexo no espelho era apenas sombra do que não possuía luz. A mim restaria, esperar aquela dor cessar enquanto no pranto, o elo ainda existia. Eu poderia ir, eu queria. Fizera eu o que achava impossível: e vi minha vida passar pelos meus olhos. Minha infância. A escolinha, minhas primeiras palavras. Me vi crescer, amadurecer, sentir. Ali, faltas, ausências, lembranças guardadas ora esquecidas. E como num sonho, minha mãe parecia brilhar. Meu pai, meu irmão. E eu, escuridão. Mais do que ver, eu pude reviver tudo aquilo, como num intenso dejàvu: que de parecer tão real, quase acreditei naquela ilusão que a fraqueza me proporcionava.
E eu quis ir. Desejei ausentar do meu próprio corpo, e ser o não ser. Não sobrar-me sensibilidade para sentir tanto. A dor tomava-me o corpo cada vez mais, e ali, entorpecia. O conflito que permanecia estava entre a cabeça e o coração: os únicos que pareciam resistir. Logo eles, que engrandeciam o mártir do fim que eu mesma procurei. Minha última lembrança era de chorar o fino pranto de quem não quer ir, mas não tê mais escolhas. Então me rendi à escuridão e tudo se tornou silêncio. Vazio. Até a própria dor inexistiu. Nunca soube se ali eu deixara de pulsar. Sei que essa foi a noite mais longa da minha vida.
A noite em que desisti de viver.
Era muito mais fácil partir do que ficar ali.
Naquela noite, pouco fui mas muito senti. Sendo apenas o corpo, mas o coração capaz de mostrar as evidencias de tanta dor. Não mais encontrava face: razão, emoção e eu mesma. O reflexo no espelho era apenas sombra do que não possuía luz. A mim restaria, esperar aquela dor cessar enquanto no pranto, o elo ainda existia. Eu poderia ir, eu queria. Fizera eu o que achava impossível: e vi minha vida passar pelos meus olhos. Minha infância. A escolinha, minhas primeiras palavras. Me vi crescer, amadurecer, sentir. Ali, faltas, ausências, lembranças guardadas ora esquecidas. E como num sonho, minha mãe parecia brilhar. Meu pai, meu irmão. E eu, escuridão. Mais do que ver, eu pude reviver tudo aquilo, como num intenso dejàvu: que de parecer tão real, quase acreditei naquela ilusão que a fraqueza me proporcionava.
E eu quis ir. Desejei ausentar do meu próprio corpo, e ser o não ser. Não sobrar-me sensibilidade para sentir tanto. A dor tomava-me o corpo cada vez mais, e ali, entorpecia. O conflito que permanecia estava entre a cabeça e o coração: os únicos que pareciam resistir. Logo eles, que engrandeciam o mártir do fim que eu mesma procurei. Minha última lembrança era de chorar o fino pranto de quem não quer ir, mas não tê mais escolhas. Então me rendi à escuridão e tudo se tornou silêncio. Vazio. Até a própria dor inexistiu. Nunca soube se ali eu deixara de pulsar. Sei que essa foi a noite mais longa da minha vida.
A noite em que desisti de viver.
3 comentários:
Brigada, você é uma fofa mesmo! E eu tô sempre aqui, seu blog é demais*--* Só peço desculpas por não comentar sempre, é que eu ando meio srm tempo pro pc. Mas daqui pra frente vou sempre comentar! beijos ;*
Eu amei as duas historias, são super chocantes! Fiquei emocionada e encantada com a maneira que escreve.
Só uma pergunta..... é real isso mesmo? Fiquei até na duvida, bgs
PS: 00:00 para voce Mari (:
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