Comportamento, moda, fotografia, música, textos de amor e dicas. Um Blog com tudo aquilo que adoramos fazer antes de sonhar! – Por Mariana Solis

terça-feira, dezembro 20, 2011


Nosso Céu e Oceano

É inacreditável saber que você está na minha frente. Eu sabia que um dia voltaria, mas desde que partira, eu quis incessavelmente que voltasse. Contei os dias, os meses e anos. Foram dois anos, um mês e três dias desde que dissera adeus. E de repente sem avisar, tu aparece na minha porta com um sorriso pontual e os braços abertos para me abraçar. Por mais que tenha ficado tanto tempo longe de ti, eu vejo que algo está errado demais na sua face.
Seu sorriso não reflete aos olhos.
Mas corro para o seu abraço, simplesmente pela atração que existe entre nós. Eu senti falta demais de ti, garoto. Respiro fundo, para lembrar a sensação do teu perfume nos meus pulmões. Toco seu cabelo, sua pele, sua boca. Fico eufórica na tua presença. E te beijo, tu me beija. Percebo tua igual euforia, mas ainda sinto certa ansiedade. Ainda está com a farda suada, mas eu nem sequer me importo. Te beijo mais, necessitando mais de você do que de fôlego. Tuas mãos me seguram forte contra teu corpo. Eu mal posso acreditar. Você voltou.
–Eu senti sua falta.
É um alívio lhe dizer isso. Mal me cabe tanto sorriso nos meus lábios. Minha vontade é de não sair do seu colo nunca mais. Desde que foi mandado para outra missão, essa casa nunca ficara tão vazia. Vamos de mãos dadas para a cozinha, e ficamos por lá durante horas. Você me diz das noites tensas no exército e das vezes que viu seus amigos morrerem na guerra. E me mostra as seis cicatrizes que carregava no corpo e das suas sensações de quase morte. Aquilo me arrepia e emociona. Anoitece. Fico imaginando o nosso casamento. Parece que há dois anos nossa aliança de noivado perdera seu real sentido. Enquanto fala das suas experiências durante esse tempo, lembro do meu aniversário de vinte e vinte um. Você estava no Vietnã em outra missão e sequer pôde me ligar. Aquilo fez uma cicatriz tão grande quando a que carrega no ombro. Eu queria que estivesse comigo, mas o que eu poderia fazer? Me delicio nesses devaneios, mas algo continua a me prender em você: fica cada vez mais aparente que algo te incomoda.
–O que está acontecendo?– eu lhe pergunto, por já não conseguir disfarçar.
(Silêncio.) Você apenas abaixa a cabeça. Sinto-te hesitar e não me responde. Toda minha felicidade se dissipa em questão de segundos. Eu sei muito bem o que vai me falar.
De novo não.
Eu não acredito.
Você vai fazer isso comigo de novo.
–Por favor, fique.
–Eu n...não posso.
–Você sabe que pode, que droga!– dói por saber que dessa vez não volta.
–Eu amo você, minha linda.
–Então vamos nos casar, não importa! Que seja só nós dois na capela do bairro!
(Silêncio.)
Nós não vamos nos casar.
–Meu amor– seguro seu rosto entre minhas mãos –você me prometeu. Eu te quero para sempre.
Te sinto lutar contra o irresistível. Sei que ainda me ama. Não ama?
–Eu também... eu também te quero.
Imploro-lhe com os olhos, que por sinal já começam a fraquejar pelas lágrimas do adeus que nunca fui capaz de dizer. Tive medo, mas dessa vez é real.
–Talvez você consiga.
(Silêncio.)
Não, eu não consigo.
Você não vai voltar.
Eu sinto a dor na sua voz, é inevitável. Na sua ausência eu consegui pelo menos ser. Senti saudade, fome e frio. Ao menos sabia que um dia você voltaria. E isso me dava pulso. Eu consegui resistir, embora estivesse cansada demais de viver sem ti. Agora, no momento que mais espero te ter para sempre, te chamar de meu, tu vem me dizer que nunca mais nos veremos. Dessa vez, a partida é diferente.
Você simplesmente acabou com todas as minhas expectativas. Antes eu pelo menos tinha alguma esperança. Eu amei você garoto e ainda amo. Mesmo com tantos contras, tu resistiu a cada vez que a morte lhe dera a mão. Tinha um oceano entre nós. Agora você está me dando um céu. Agora que entregara os pontos, apenas fixo meu olhar no seu, com medo de ser a última vez que eu possamos nos olhar assim, vivos
–Eu não...
tenho forças. Não completo, mas você entende.
–Eu sinto muito.
É menino, eu também.
–Você consegue?
(Silêncio.)
Você sabe muito bem que não.
E me abraça. Eu sinto a dor do que está por vir mais uma vez: o vazio. Eu não tenho opções. Quero ser forte, mas é impossível. Sei que não consigo. E pior, tu vai seguir em frente, porque simplesmente seus olhos te denunciam. Não vai ficar por mim, tampouco mudar. E olha o que resta de mim: o que posso fazer? Não é dessa vez que eu vou poder fugir da realidade. Sonhar contigo, esperando a tua volta, será mais uma ilusão. E isso vai doer, não vê garoto?
–Sem você não, sem você sou só solidão.
E choro na sua camisa branca. Seu perfume me entorpece e já sinto a nostalgia disso por ser a última vez que o sinto em sua pele.
–Não chore, por favor.
–Não vá, então.
E te olho. Procuro a resposta no que melhor conheço em você. Seria tão mais fácil se uma parte de mim não quisesse se despedaçar só por pensar em dizer adeus.
–Eu sinto muito, minha pequena. Eu te amo.
(Silêncio.)
Devagar, afasta seu rosto do meu, para então nossos corpos se separarem. Tenho vontade de nunca soltar a sua mão, que ainda permanece como nosso último contato. Você é forte e não chora. E eu, já tomada por abismo, não suporto o que colocara no meu peito. Estamos na porta da minha casa, e aperta minha mão antes de soltá-la.
Você deixou sua aliança comigo e me desespero.
Não há nada mais a ser dito. Mas, então, tu vai sem olhar para trás. Se essa é a última vez que te vejo, eu estou completamente perdida. Sem você garoto, nem ao menos sei ser solidão. E agora, enquanto te vejo sumir no horizonte, vi que nada sobrou. Tu me levaste consigo. O que ficou garoto, nem ao menos sei. É vazio. Certeza tenho que o que ficara não passa do que desconheço: só sabia ser eu contigo.
Uma hora, morreremos. De falta, de guerra, da luta contra nós mesmos. Dessa vez eu não vou tentar, sequer suportar. Não é como se eu tivesse morrido: ainda estou viva.
A diferença é que agora nós não mais existimos.
Desistimos.
3 comentários

3 comentários:

Jéssica disse...

Que surpreendente, juro que não imaginava um final como esse. Amei muito, muito! Beijoca amiga blogueira, aparece no meu site depois viu?

Gabriela disse...

Que texto liindo, é muito emocionante. Mas eu só não entendi muito bem a parte em que ele sabe que não vai mais voltar :S

Mariana Solis disse...

Obrigada meninas!! É muito bom saber que gostaram!

Oi Gabriela, como sempre você por aqui ♥ Ele sabe que não volta por causa que dessa vez ele pode morrer na guerra! Então os dois se conformam e desistem um do outro e do seu amor, beijos!

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