Não é só isso

Não é difícil, tampouco raro, cansar-se do que a vida quer que você leve, contra a vontade, contra o ímpeto e, em alguma hora, contra você mesmo. E cansada, para falar a verdade exausta disso, resolvi arriscar. Para o meu desespero, recheado de desatino, fiz uma escolha plausível, porém nada fácil. Antes acreditava nas pessoas de braços abertos e olhos fechados. De uma forma que pouco compreendo, mas levava como um estilo de vida. Era simples acreditar em amor perfeito, metades que se completam e todos esses blá-blá-blás de amores eternos, ingênitos e puros demais.

Apesar disso, com a mudança interior que de fato me ocorre, não deixo de achar que o valor está naquilo que vem de dentro. Tem quem me conheça o suficiente para entender meus mistérios, minhas dúvidas e receios. E, ao mesmo tempo, existe aquele que chega agora, descobrindo um pouco do que sou, com todo aquele encanto de "nós podemos dar certo". Encanto que, não nego, também gosto de acreditar.

Sim, nós podemos dar muito certo.

Mas se me perguntarem, não saberia responder como. Ninguém muda por completo, mas já não é o mesmo de ontem ou de um ano atrás. Eu estou diferente, mas sou eu o tempo todo. Tenho pavor de clichês e frases prontas que se contradizem metade pela metade – simplesmente se anulam. Mas, quando lhe disse que falar sobre amor me exige toda a inspiração, eu não mentia. Entre uma linha e outra acho que disse tudo, mas, na verdade, eu nada disse. E que às vezes me canso de ver as coisas pelas metades e por isso me sinto feliz por me descobrir inteira. Dessa antítese entre cheios e vazios, acredito numa transição, onde acho que ainda cabe mais água no copo, antes dele transbordar. Ainda é cedo para entender o que tento dizer, afinal eu também não te entendo sempre. 

Porque, por enquanto, não é amor nem paixão, mas já não é mais só atração.

Eu me refugio em uma etapa de algo que ainda não tem nome.

Não é só por isso que te vejo diferente, de uma maneira que confesso: adoro. Eu não acho que são os pequenos defeitos que fariam a diferença, na demasia do que ainda está no começo. E não há necessidade de contar aos seus amigos uma palavra que eu te disse aqui. Um segredo, se você quiser. E não é só por isso que já não escondo as quase verdades. Gosto de saber que fui a última pessoa em quem você pensou antes de dormir. E que, por cumplicidade do inconsciente, você também sonhou comigo – mesmo que fosse um sonho sem sentido, mas era eu quem estava lá. E sei lá, admito que gosto de escrever isso para você, um destinatário diferente, um anjinho que me apareceu de repente, sem outras pretensões. É instigante pensar assim. 

Essa mania de mudança interior tem me feito pensar em muitas coisas. Principalmente em você.

Entre o ir e vir, eu prefiro o movimento. Entre ficar e partir, prefiro andar de mãos dadas contigo. Entre falar tudo ou nada, prefiro descobrir aos poucos. Entre o começo e o fim, há um meio para separar. Entre a saudade e a satisfação, existe o sentimento. Mas eu já gosto o suficiente de ti para saber que não foi mero acaso do destino que te trouxe até mim.

Ainda há muito que não sei, mas já tenho certeza que não é só isso.