Curtir a vida
Numa das milhares madrugadas que passei em claro no computador, tive o prazer e a honra de bater um longo e gostoso papo com um querido amigo de longa data.
Ele me contava sobre as notícias que tivera recentemente sobre sua ex-namorada, uma pessoa com tantos problemas psicológicos que deixariam Courtney Love com inveja. Não eram das mais animadoras: drogas, bebedeiras exageradas, promiscuidade igualmente exagerada, etc. Quase um estágio para Christiane F. Uma espécie de crise de identidade de uma adolescente de 15 anos ainda buscando qual rumo seguir.
Exceto pelo fato da pessoa em questão já ter passado dos 20.
Entramos em seguida numa discussão sobre se isso não seria o tão visado “curtir a vida” e em caso negativo, o que então seria.
É impossível entrar nesse assunto sem antes se questionar a maior dúvida existente: Qual o sentido da vida?
Se você se dispõe a pensar sobre o que é aproveitá-la, precisa antes decidir o que de fato ela é, e sua finalidade.
Gosto de pensar que a finalidade é a luta para conseguir se desprender do substantivo e se focar no verbo. O sentido da vida é viver. Essa é a sua finalidade. Essa é a sua resposta.
Não encaro a vida como um presente. Ninguém pede para nascer. Encaro como uma consequência biológica. Mas não apenas como isso. Não é como se fôssemos uma galinha que cai de paraquedas no mundo, e como a todos os outros animais irracionais, a vida à leva. Com o ser humano é o oposto: ele leva a vida, ou pelo menos deveria levar. O presente não é a vida, mas a racionalidade para notá-la. E fazer jus à essa racionalidade é justamente usá-la.
Partindo do ponto em que você aceitou viver, é melhor fazer direito. Não há certezas quanto a uma segunda chance. Na verdade, as possibilidades disso acontecer são tão ínfimas que não devem ser levadas em consideração. Esse é o primeiro ponto para o seu total aproveitamento: a noção de que a vida não se repete. Encarar a vida como uma sala de espera não é viver, é sobreviver.
Ao mesmo tempo que nasce uma vida aqui, nasce outra em Marrocos. A vida não é um acontecimento isolado. É um conjunto de vidas que acontecem simultaneamente, ela acontece no plural, nunca no singular.
Sendo assim, viver não é a monopolização para si mesmo das forças para seu aproveitamento, é considerar o todo como parte fundamental dessa busca. Parafraseando John Donne: nenhum homem é uma ilha isolada.
Não se pode aproveitar algo que se mata, que se destrói, que se contamina. Curtir a vida é se focar tanto no “curtir” quanto no “vida” e cuidar dela e de sua continuidade de forma amável e responsável como uma mãe cuida de um filho. Novamente falando, de forma ampla. A vida de maneira geral.
Pessoalmente falando, esse é o meu tendão de Aquiles. Escrevo esse texto com o mouse em uma mão e um Marlboro na outra, com a consciência de que a cada tragada, um pouco de vida vai embora junto.
Tudo o que prende, priva, manipula, amedronta, amarra e cega, não faz parte da vida. É preciso se desprender de todo e qualquer dogma, é preciso viver em sociedade sem se deixar envenenar. A crença é o câncer da vida, que por sua vez não acontece pela metade. Querer viver a vida pela metade é não vivê-la por inteiro.
Tenha sempre em mente que a sua vida é sua e você é o único responsável por comandá-la. O aproveitamento da vida exige liberdade. Ela é a gasolina que impulsiona o viver.
Não é fácil, eu sei, mas ninguém disse que seria. O mais difícil da vida, é sem dúvida nenhuma, vivê-la.
Escrito por Marina, do Corra, Mary!
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