Não gosto de elevadores cheios e nem dos assuntos que as pessoas que nele costumam conversar. Juro que é sem querer quando não retribuo um gesto gentil de alguém. Pouco me agrada lojas lotadas. Passo longe daquelas que os vendedores esperam na porta. Palhaços são sem graça. Piada só se for de humor negro. Dizem que sou chata, mas não vem com essa para cima de mim não, é você que não sabe conversar comigo. Adoro mesa de boteco, mas por favor, não esbarre na minha cadeira. Isso irrita. E amiga apaixonada, então? Confesso: sou a pior conselheira e a maior inimiga nessas horas. Chega de chororô. Não acredito em mundo de cor de rosa e esse papo de que toda mulher é uma princesa, é tão hipócrita quanto fada do dente. Mas, ei, peraí, não é porque eu seja indelicada que eu não tenha sentimentos.
Pelo contrário, sou uma manteiga derretida. Até chorei quando minha gatinha morreu.
Tenho fascínio por certas pessoas que conseguem surpreender a rotina. O maciço cotidiano é o meu maior temor. Por isso, elevador não é o melhor lugar para falar comigo. Eu sei que o tempo está frio, eu olhei pela janela antes de sair de casa. Eu também assisti ao jornal, se seu time ganhou, parabéns. Não precisa puxar papo comigo, até porque eu nunca compreendi o motivo de todas as pessoas o fazerem sempre da mesma forma. São todos iguais! E suas conversas não são uma exceção. Entre meus fones de ouvido e o papo maçante de elevador, adivinha o que eu prefiro.
Na maioria das vezes, não compreendo o universo feminino, ao qual eu também faço parte. Devo ser a praga do século. É simples, não compreendo toda a subjetividade e metodologia da mulherada. Numa boate, o cara nota a moça, ela finge que ignora, olha como que não quer nada, ressalto que ainda finge ignorância, mexe no cabelo, aperta os lábios, olha o rapaz novamente e sorri. Claro, ele já entendeu. Eu que não. Ei, por quê não pula isso tudo e vai direto ao ponto? Olhar e sorrir foram as únicas duas partes significativas dessa história.
O resto é o que chamam de charme.
Ok, homens gostam disso, mas porra, parece até um contrato que ambas as partes têm que cumprir todas as etapas. Sem essa de moça de família, mulher de respeito porque, para começar, isso tudo ocorreu na balada. Isso não é para mim, definitivamente. Ainda não descobri um macho autêntico para fazer isso aí diferente. A conversa de elevador também é mais ou menos assim. Arrependo-me profundamente de ter comprado meu apê no décimo quarto andar, sim, no último. Se eu tivesse escolhido no primeiro e o que não faria diferença alguma, pouparia-me dos vizinhos que falam demais no elevador. É algo que eu penso todos os dias, quando estou dentro dele. Volto do trabalho e entro no elevador. Adivinha, lotado e sempre a última a sair dali. Ah, droga, esqueci a chave de casa dentro do carro. E de novo, mais uma aventura nessa joça maldita.
No décimo segundo andar, o elevador pára.
Entra um rapaz, com uma mochila esportiva e o que parece ser uma raquete de tênis. Ele ainda tenta organizar as várias coisas nos seus braços. Poderia até oferecer ajuda, se isso não violasse meus limites de contato naquele cubículo refrigerado. Ele me olha, como quem esperasse alguma atitude, e logo já se ajeitou com seus utensílios. E, surpresa, não puxa assunto. Isso me deixa indignada até certo ponto. Normalmente, as pessoas sentem-se atraídas a conversarem comigo nesses momentos. Eu é quem não dou muita liberdade. Estamos no sétimo andar e não entrou mais ninguém.
– Eu também gosto do silêncio. – diz ele.
O jovem me sorri no canto dos lábios e retribuo o gesto por mera educação. Mas isso me corrompe a tranquilidade com que trato conversas de elevador. Ele foi diferente, como quem soubesse dos meus pensamentos e isso me faz o reparar. Ele é extremamente charmoso. Não diria bonito, até porque sua beleza é um pouco fora do comum. Ele não parece se enquadrar no tal protótipo homem de balada. Isso me fez despertar uma certa atração por ele. Reparo as mãos, nada de aliança, apenas a raquete e as chaves do carro. Ele tenta retirar uma mecha de cabelo do rumo dos olhos, sem sucesso. Engraçado, quatro anos aqui e eu nunca o vi antes. Deve ter mudado recentemente.
– Sou novo por aqui, estou um pouco confuso, ainda. – e sorri.
Sinto segurar a respiração por instinto. Isso extrapola muitas das minhas regras. Sinto-me como uma menininha de 13 anos, sem consolo.
– Meu nome é Pedro, moro sozinho no 125. Ah, e sempre esqueço de comprar açúcar, talvez eu te peça algum dia desses. – Pedro estende a mão em minha direção e eu apenas a olho, pensando se devo estender a minha também. Ele compreende rápido e retira-se do gesto. Ele sorri sem parecer nada abalado com a minha indiferença. Eu o olho, um tanto quanto impressionada. E abro um verdadeiro sorriso para ele, ao tempo que o elevador se abre também. E não falei nada. Aliás, eu deveria?
Ele tenta pegar a mochila do chão com dificuldade. Quis ajudá-lo, mas ele foi mais veloz. Acho que ele nem viu. Só agora, me pronuncio.
– Seja bem-vindo, Pedro. Se precisar de açúcar, me procura no 142.
Na maioria das vezes, não compreendo o universo feminino, ao qual eu também faço parte. Devo ser a praga do século. É simples, não compreendo toda a subjetividade e metodologia da mulherada. Numa boate, o cara nota a moça, ela finge que ignora, olha como que não quer nada, ressalto que ainda finge ignorância, mexe no cabelo, aperta os lábios, olha o rapaz novamente e sorri. Claro, ele já entendeu. Eu que não. Ei, por quê não pula isso tudo e vai direto ao ponto? Olhar e sorrir foram as únicas duas partes significativas dessa história.
O resto é o que chamam de charme.
Ok, homens gostam disso, mas porra, parece até um contrato que ambas as partes têm que cumprir todas as etapas. Sem essa de moça de família, mulher de respeito porque, para começar, isso tudo ocorreu na balada. Isso não é para mim, definitivamente. Ainda não descobri um macho autêntico para fazer isso aí diferente. A conversa de elevador também é mais ou menos assim. Arrependo-me profundamente de ter comprado meu apê no décimo quarto andar, sim, no último. Se eu tivesse escolhido no primeiro e o que não faria diferença alguma, pouparia-me dos vizinhos que falam demais no elevador. É algo que eu penso todos os dias, quando estou dentro dele. Volto do trabalho e entro no elevador. Adivinha, lotado e sempre a última a sair dali. Ah, droga, esqueci a chave de casa dentro do carro. E de novo, mais uma aventura nessa joça maldita.
No décimo segundo andar, o elevador pára.
Entra um rapaz, com uma mochila esportiva e o que parece ser uma raquete de tênis. Ele ainda tenta organizar as várias coisas nos seus braços. Poderia até oferecer ajuda, se isso não violasse meus limites de contato naquele cubículo refrigerado. Ele me olha, como quem esperasse alguma atitude, e logo já se ajeitou com seus utensílios. E, surpresa, não puxa assunto. Isso me deixa indignada até certo ponto. Normalmente, as pessoas sentem-se atraídas a conversarem comigo nesses momentos. Eu é quem não dou muita liberdade. Estamos no sétimo andar e não entrou mais ninguém.
– Eu também gosto do silêncio. – diz ele.
O jovem me sorri no canto dos lábios e retribuo o gesto por mera educação. Mas isso me corrompe a tranquilidade com que trato conversas de elevador. Ele foi diferente, como quem soubesse dos meus pensamentos e isso me faz o reparar. Ele é extremamente charmoso. Não diria bonito, até porque sua beleza é um pouco fora do comum. Ele não parece se enquadrar no tal protótipo homem de balada. Isso me fez despertar uma certa atração por ele. Reparo as mãos, nada de aliança, apenas a raquete e as chaves do carro. Ele tenta retirar uma mecha de cabelo do rumo dos olhos, sem sucesso. Engraçado, quatro anos aqui e eu nunca o vi antes. Deve ter mudado recentemente.
– Sou novo por aqui, estou um pouco confuso, ainda. – e sorri.
Sinto segurar a respiração por instinto. Isso extrapola muitas das minhas regras. Sinto-me como uma menininha de 13 anos, sem consolo.
– Meu nome é Pedro, moro sozinho no 125. Ah, e sempre esqueço de comprar açúcar, talvez eu te peça algum dia desses. – Pedro estende a mão em minha direção e eu apenas a olho, pensando se devo estender a minha também. Ele compreende rápido e retira-se do gesto. Ele sorri sem parecer nada abalado com a minha indiferença. Eu o olho, um tanto quanto impressionada. E abro um verdadeiro sorriso para ele, ao tempo que o elevador se abre também. E não falei nada. Aliás, eu deveria?
Ele tenta pegar a mochila do chão com dificuldade. Quis ajudá-lo, mas ele foi mais veloz. Acho que ele nem viu. Só agora, me pronuncio.
– Seja bem-vindo, Pedro. Se precisar de açúcar, me procura no 142.
Apesar de estarmos andando na mesma direção, rumo à garagem, ele tenta um aceno, mas em vão: as mãos cheias o impedem. Penso na minha performance. Ele é simpático, bonito e solteiro. Será que ele gostou de mim? Acho que não fui educada. Deveria ter apertado a mão dele. Estou me sentindo exatamente como a mulherzinha que quer chamar a atenção de um cara. Isso é ridículo, de fato. Como será que está meu cabelo? E minha roupa? Eu sequer o ajudei. E se ele tiver me achado realmente rude por isso? Poderia ter sido mais receptiva e agradável. Droga.
Ai, será que eu fui muito indelicada?
Ai, será que eu fui muito indelicada?
2 comentários:
Adorei! Eu me identifiquei, já que eu sou muito diferente das outras pessoas e odeio pegar elevador com pessoas, prefiro mil vezes pegar um elevador vazio. Também sou mais feministas, me interesso por coisas diferentes das outras garotas.
Beijos!
Garota de All Star
Awn, adorei!
Gostei da parte de não compreender o mundo feminino, mesmo sendo mulher. Mesmo ainda possuindo algumas manias (que todas possuímos no final das contar). Gostei da parte que ele entra no elevador e meche com algo dentro dela. Amei, na verdade!
Beijos! :3
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