"Quase tudo de que lembro, me dá certeza
que eu devia ter te impedido de passar porta afora
Você poderia ser feliz, eu espero que você seja"
– You could be happy, Snow Patrol
O erro não foi deixá-la partir. Mas deixar que partisse quando o amor já não existia mais. Nela.Não nos conhecemos em nenhuma das baladas que eu frequentava. Ela até sabia o meu nome, mas não por bons motivos. A primeira vez que tinha ouvido falar ao meu respeito foi por eu ter batido em um cara otário que, por ventura, ela conhecia. Eu não a encontrei na mesa de um bar, bebendo sozinha – ela sequer bebe, e isso nem faz diferença, faz? Não esbarrei nos seus livros pelos corredores do colégio porque fui expulso da maioria deles. Mas certo dia, na padaria próximo a minha casa, ela estava atrás de mim na fila e deixei que ela passasse na minha frente. Não sei exatamente o que me passou na cabeça, mas tinha algo nela que mexeu comigo. Ela agradeceu e pediu o último sonho de doce de leite, que, por coincidência, era o que eu queria. Disse a ela, entre uma risada pouco frustrado, que eu também pediria aquele doce. Constrangida e entre meias palavras ela me disse que dividiria comigo por eu tê-la deixado entrar na minha frente.
Foi, então, que ela entrou também na minha vida.
Pontualmente, passei a ir na padaria na esperança de ver aquela garota, que nem nome eu sabia. Para ser bem honesto, estava bem disposto a aproveitar da aparente inocência dela. Já planejava comprar alguns sonhos de doce de leite e chamá-la para comer comigo na minha casa, e seria bem fácil. Afinal, era eu um cara arrumado, com um perfume envolvente, evidentes bíceps frutos do treino, sorriso arrasador e um bom papo. Eu tinha qualquer garota na minha mão. Até que ela me colocou na dela.
Ela não aceitou o meu convite na primeira tentativa, mas já me sentia vitorioso ao saber o seu nome e que era a sua avó quem morava perto dali. Os lábios grossos e o olhar reluzente me cativava, ainda que ela não fosse a mais gostosa do mundo. Ela estava muito longe de ser uma daquelas garotas populares. O coque mal feito e a blusa desbotada já denunciavam que ela pouco se importava com o que pensavam dela, e isso não a fazia feia. Ela era linda até demais. Não a vi mais por ali, mas insisti até conseguir o seu telefone.
Saímos umas dez vezes. Só pela sexta vez que tive coragem de tentar algum avanço. Me senti estranho ao perceber que tinha medo de assustá-la ou perdê-la de alguma forma. Engraçado como tudo tem sua primeira vez. E foi ela quem me fez viver o que era inédito para mim. Deixei de encarar a bunda das meninas mais gostosas e passei a ser um pouco mais homem. Mas eu sei, sei que não deixei de ser meio otário, um playboy com pouca habilidade emocional, apenas sexual. Era um babaca que de repente encontrou um norte, só que tentava se negar o rumo que as coisas estavam tomando. Ela, por outro lado, nem parecia demonstrar sentimento. Até que um dia desses, enquanto eu segurava a sua mão sem qualquer expectativa de que ela segurasse a minha, ela o fez. Entrelaçou os dedos finos, com as pontas pintadas de rosa-quase-vermelho, na minha mão. Pode parecer viadagem, mas aquilo me esquentou todo e em todos os sentidos. Porra, aquilo estava saindo dos meus controles. Porra, era só uma mão feminina na minha. Ela sequer me sorria maliciosa. Ela sequer sorria. Parecia satisfeita, apenas. Eu estava enlouquecendo com a forma que ela me fazia sentir. Sonhei com ela todos os dias.
Sonho até hoje.
Até que tomei a maior atitude da minha vida. Roubei-lhe um beijo. E inevitavelmente me senti um corajoso, um inconsequente, mas um completo realizado ao ver que ela correspondia. Ela que me guiou, no seu jeito de pouca urgência, num beijo terno que me permitiu senti-la, miúda na sua timidez, o quanto ela me fez grande. Me fiz alguém. E nem sei o que fiz por ela. Só sei que com ela queria que fosse tudo certo, na sua vez, no nosso tempo. Certamente me instigava o seu silêncio, mas percebi que o barulho de todas as garotas que eu me relacionava eram de fato um incômodo. Ela era praticamente a primeira garota-mulher-de-verdade que eu levei para que meus pais conhecessem. E quando fui apresentado aos dela, a pele fina do seu rosto permaneceu rubra, constantemente rubra. E reparei bem: apesar de tão envolvido nela, eu me desdobrava para fazer acontecer. Ela parecia deixar fluir. Queria contar a ela boas histórias. Ela se dava por completa apenas me ouvindo. E saquei que ela me deu poucas chances de conhecê-la. E ainda assim, eu me apaixonei por ela.
Então, este foi o tempo do nosso amor. Eu a observei nos seus mais simples movimentos, nas suas mais singelas atitudes. Eu amava a sua existência. Meus amigos diziam que eu estava viciado e, caralho, viciado em uma garota. O melhor de tudo era que eu não procurava uma cura. Descobri que ela gostava mais de ricota que mussarela. Cólica a deixava com dor de cabeça. Aos domingos de manhã ela participava de projetos sociais. Era mais fácil ela aceitar uma ameixa que morangos, por mais que comesse das duas. Queria conhecer a Disney. E se pudesse, seria bibliotecária para ler a vida toda. Ela amava moletons e nunca teve uma lingerie, até que eu comprei o seu primeiro conjunto. E, maravilhado, a vi usando pela primeira vez.
Ela era serena. Não se atentava às meninas que ainda se ofereciam para mim. Ela não discutia, até porque não era necessário. Era certo ela pensar que eu tinha mudado, não era? Acontece que eu não mudei. No fundo, eu era o mesmo playboyzinho de merda. Só estava apaixonado. E sei lá, às vezes eu me esquecia disso. Esquecia-me de que ela se fazia presente, ainda que com poucas palavras. Ela sempre se bastou delas. Nunca me investigou. Se tinha ciúmes, não demonstrava. Era simplesmente segura de si. Eu estava bem.
Até que o mundo lá fora começou a me chamar de novo.
Passei a dar moral às gostosas que ainda insistiam em mim. Ia às baladas, com ou sem ela. Voltei a sair com frequência com os brothers. E me senti mais livre, mesmo sem nunca ter ficado preso. Tão livre que na minha mente fraca, eu tinha o livre arbítrio para me relacionar com quem eu bem entendesse. E numa oportunidade qualquer, traí, como o otário que sempre fui. Traí uma, duas, dez, quinze vezes. Ela jamais me questionou, mas eu tinha certeza da sua sensibilidade. Eu estava diferente. Aliás, eu só voltei a ser eu mesmo. Um playboy de-você-sabe-de-quê.
Saímos umas dez vezes. Só pela sexta vez que tive coragem de tentar algum avanço. Me senti estranho ao perceber que tinha medo de assustá-la ou perdê-la de alguma forma. Engraçado como tudo tem sua primeira vez. E foi ela quem me fez viver o que era inédito para mim. Deixei de encarar a bunda das meninas mais gostosas e passei a ser um pouco mais homem. Mas eu sei, sei que não deixei de ser meio otário, um playboy com pouca habilidade emocional, apenas sexual. Era um babaca que de repente encontrou um norte, só que tentava se negar o rumo que as coisas estavam tomando. Ela, por outro lado, nem parecia demonstrar sentimento. Até que um dia desses, enquanto eu segurava a sua mão sem qualquer expectativa de que ela segurasse a minha, ela o fez. Entrelaçou os dedos finos, com as pontas pintadas de rosa-quase-vermelho, na minha mão. Pode parecer viadagem, mas aquilo me esquentou todo e em todos os sentidos. Porra, aquilo estava saindo dos meus controles. Porra, era só uma mão feminina na minha. Ela sequer me sorria maliciosa. Ela sequer sorria. Parecia satisfeita, apenas. Eu estava enlouquecendo com a forma que ela me fazia sentir. Sonhei com ela todos os dias.
Sonho até hoje.
Até que tomei a maior atitude da minha vida. Roubei-lhe um beijo. E inevitavelmente me senti um corajoso, um inconsequente, mas um completo realizado ao ver que ela correspondia. Ela que me guiou, no seu jeito de pouca urgência, num beijo terno que me permitiu senti-la, miúda na sua timidez, o quanto ela me fez grande. Me fiz alguém. E nem sei o que fiz por ela. Só sei que com ela queria que fosse tudo certo, na sua vez, no nosso tempo. Certamente me instigava o seu silêncio, mas percebi que o barulho de todas as garotas que eu me relacionava eram de fato um incômodo. Ela era praticamente a primeira garota-mulher-de-verdade que eu levei para que meus pais conhecessem. E quando fui apresentado aos dela, a pele fina do seu rosto permaneceu rubra, constantemente rubra. E reparei bem: apesar de tão envolvido nela, eu me desdobrava para fazer acontecer. Ela parecia deixar fluir. Queria contar a ela boas histórias. Ela se dava por completa apenas me ouvindo. E saquei que ela me deu poucas chances de conhecê-la. E ainda assim, eu me apaixonei por ela.
Então, este foi o tempo do nosso amor. Eu a observei nos seus mais simples movimentos, nas suas mais singelas atitudes. Eu amava a sua existência. Meus amigos diziam que eu estava viciado e, caralho, viciado em uma garota. O melhor de tudo era que eu não procurava uma cura. Descobri que ela gostava mais de ricota que mussarela. Cólica a deixava com dor de cabeça. Aos domingos de manhã ela participava de projetos sociais. Era mais fácil ela aceitar uma ameixa que morangos, por mais que comesse das duas. Queria conhecer a Disney. E se pudesse, seria bibliotecária para ler a vida toda. Ela amava moletons e nunca teve uma lingerie, até que eu comprei o seu primeiro conjunto. E, maravilhado, a vi usando pela primeira vez.
Ela era serena. Não se atentava às meninas que ainda se ofereciam para mim. Ela não discutia, até porque não era necessário. Era certo ela pensar que eu tinha mudado, não era? Acontece que eu não mudei. No fundo, eu era o mesmo playboyzinho de merda. Só estava apaixonado. E sei lá, às vezes eu me esquecia disso. Esquecia-me de que ela se fazia presente, ainda que com poucas palavras. Ela sempre se bastou delas. Nunca me investigou. Se tinha ciúmes, não demonstrava. Era simplesmente segura de si. Eu estava bem.
Até que o mundo lá fora começou a me chamar de novo.
Passei a dar moral às gostosas que ainda insistiam em mim. Ia às baladas, com ou sem ela. Voltei a sair com frequência com os brothers. E me senti mais livre, mesmo sem nunca ter ficado preso. Tão livre que na minha mente fraca, eu tinha o livre arbítrio para me relacionar com quem eu bem entendesse. E numa oportunidade qualquer, traí, como o otário que sempre fui. Traí uma, duas, dez, quinze vezes. Ela jamais me questionou, mas eu tinha certeza da sua sensibilidade. Eu estava diferente. Aliás, eu só voltei a ser eu mesmo. Um playboy de-você-sabe-de-quê.
Entre eu e ela o tempo não era cronológico. Não necessariamente morremos a cada dia. Às vezes ela conseguia resgatar o amor singelo e transparente que existira. Mas nem sempre eu estava disposto a dedicar meu tempo, tão precioso tempo, àquela garota, de poucas palavras e de muita delicadeza. Não era suficiente porque eu sou um completo babaca, um ignorante de cabeça vazia e carne cheia.
Até que ela descobriu.
E sem nada dizer, ignorou minhas ligações e todas as minhas tentativas de contato. Fiquei na porta da sua casa, escondido atrás do carro, na padaria, na porta da casa da sua avó. Ela não me notava e eu sequer tinha coragem para segurá-la pelo braço e dizer-lhe tudo que me consumia o sono, o espírito e a calma. Só então caí na real do tamanho da burrada que eu fiz. Toda a minha dedicação foi destruída pelo cara mais idiota do mundo. E eu, eu mesmo, fui responsável pela auto-destruição, por achar que ela era pouco para mim e que eu era demais para ela. Engano meu. Sorte era poder tê-la na minha vida. Ela foi tudo que eu sempre quis e não soube que tive. Só hoje sei que faria diferente, porque eu a perdi para sempre. Eu deixaria de ser esse insignificante playboyzinho de merda para ser o príncipe dela, ao menos merecê-la. Nada disso importa mais.
Pudesse eu ter lido o futuro.
Até que ela descobriu.
E sem nada dizer, ignorou minhas ligações e todas as minhas tentativas de contato. Fiquei na porta da sua casa, escondido atrás do carro, na padaria, na porta da casa da sua avó. Ela não me notava e eu sequer tinha coragem para segurá-la pelo braço e dizer-lhe tudo que me consumia o sono, o espírito e a calma. Só então caí na real do tamanho da burrada que eu fiz. Toda a minha dedicação foi destruída pelo cara mais idiota do mundo. E eu, eu mesmo, fui responsável pela auto-destruição, por achar que ela era pouco para mim e que eu era demais para ela. Engano meu. Sorte era poder tê-la na minha vida. Ela foi tudo que eu sempre quis e não soube que tive. Só hoje sei que faria diferente, porque eu a perdi para sempre. Eu deixaria de ser esse insignificante playboyzinho de merda para ser o príncipe dela, ao menos merecê-la. Nada disso importa mais.
Pudesse eu ter lido o futuro.
2 comentários:
Amei esse texto, tão simples e singelo <3
http://pequenamiia.blogspot.com.br/
Lindo texto, de verdade.
Tô até com medo de ler os outros, to sensivel demais pra isso kkkkk
beijos
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